segunda-feira, 13 de julho de 2009

A quem pertence a música?









A propósito do concerto de hoje em Lisboa dos Metallica, lembremos o destaque que tiveram na guerra recente contra a partilha de ficheiros da internet.
Em 2000, os Metallica descobriram que uma demo da canção “I Disappear", que devia ser lançada na banda sonora do filme "Missão Impossível 2", estava a tocar nas rádios. Depois de descobrirem a fonte de distribuição, a banda encontrou o arquivo na rede "peer-to-peer" de partilha de arquivos do Napster, e também descobriram que todo seu catálogo tinha sido livremente disponibilizado. Iniciaram uma acção judicial contra o Napster, alegando que o Napster teria cometido os crimes de violação de direitos de autor e utilização ilegal de interfaces de áudio digital, etc. Processaram também universidades por não bloquearem o Napster nos espaços da universidade. No ano seguinte, foi feito um acordo fora dos tribunais que levou ao bloqueio de contas de utilizadores do Napster.

A banda iniciou sua carreira na cena underground com a troca de gravações não autorizadas de concertos, mas ficaram agora com medo da partilha livre da música. E com outros receios... da descida dos lucros da banda e do poderoso e gigantesco grupo de comunicação Warner.
Felizmente houve respostas várias, que caricaturam a atitude justiceira dos Metallica, e o facto de serem mais uma “voz do dono” nesta questão.
Mas a banda fez também a sua campanha. Neste vídeo comparam partilhar uma cópia a comer do prato alheio ou simplesmente ao roubo.
Não é bem o mesmo, pois não? Quem andará a roubar quem?
O debate continua, mas é preciso saber de que lado se está.


sexta-feira, 10 de julho de 2009

Agostinho

"A finalidade da música é criar no espírito do ouvinte um estado de arrependimento e submissão e assim torná-lo receptivo à palavra de Deus."
(Santo Agostinho, De Musica)

Se é assim, desisto já. A música e a política podem ser emancipação, e não polícia.

“Política”, adjectivo da música?

Em “O King”, peça que integrou a sua “Sinfonia”, o compositor Luciano Berio (1925-2003) homenageia Martin Luther King. Escrita em 1968, esta obra de vanguarda (palavra a discutir) usa os sons do nome “Martin Luther King”, só intacto e completamente perceptível no fim da peça.
Música “política” até ao tutano (trabalhando a memória de um homem e de uma luta no interior da música) ou apenas sinal superficial dos tempos “conturbados” de 1968?
Ouvindo, aproximamo-nos da primeira hipótese. Mas a pergunta não está bem formulada - pode “política” ser apenas um adjectivo da música?

quinta-feira, 9 de julho de 2009

Sem esquecer

É o plano final do filme Kuhle Wampe, filme de 1932 de Slatan Dudow, Hanns Eisler e Bertolt Brecht. A “Solidaritätslied” (canção da solidariedade) não é só uma marcha de unidade - é uma canção contra o esquecimento (“vorwärts, und nicht vergessen") que acaba perguntando “a quem pertence o mundo?”

segunda-feira, 6 de julho de 2009

Quero mais

“Sem eira nem beira” pode gozar o primeiro-ministro engenheiro e passar a hino anti-governo (com ajuda da TVI!). Não deixa de ser um fenómeno interessante, apesar da evidente falta de ideias musicais dos actuais Xutos e Pontapés. Continuam, dizem, a situar-se “à esquerda”. Mas a rebelião (ainda punk, ainda quente) estava muito mais aqui, numa canção revoltada com pés e cabeça como “Quero mais”, que fecha o primeiro LP, “78-82”. Bem diferente do som e da atitude que têm hoje. Bem diferente dos Xutos das mega-produções consensuais. Bem diferente do pacote-estádio que oferecem hoje. Bem diferentes dos Xutos medalhados, símbolo “rock” da nação.
O vídeo que se segue é de 1988, um ano de viragem e já com muito "barulho das luzes", depois do grande sucesso de “Circo de Feras” em 1987. Mas ainda cantavam “Quero Mais”. E não era só “mais sucesso”...

sábado, 4 de julho de 2009

Revolt!

Langston Hughes (1902-1967) foi um grande poeta americano, referência fundamental do combate pelos direitos civis dos negros nos EUA e por todo o mundo. A sua "jazz-poetry" influenciou a "beat generation" e mais tarde o hiphop.

Um dos seus poemas "jazz":



E ainda um poema/canção de Hughes:

A New Song (versão de 1938)

I speak in the name of the black millions
Awakening to action.
Let all others keep silent a moment
I have this word to bring,
This thing to say,
This song to sing:
Bitter was the day
When I bowed my back
Beneath the slaver's whip.
That day is past.
Bitter was the day
When I saw my children unschooled,
My young men without a voice in the world,
My women taken as the body-toys
Of a thieving people.
That day is past.
Bitter was the day, I say,
When the lyncher's rope
Hung about my neck,
And the fire scorched my feet,
And the oppressors had no pity,
And only in the sorrow songs
Relief was found.
That day is past.
I know full well now
Only my own hands,
Dark as the earth,
Can make my earth-dark body free.
O thieves, exploiters, killers,
No longer shall you say
With arrogant eyes and scornful lips:
"You are my servant,
Black man-
I, the free!"
That day is past-
For now,
In many mouths-
Dark mouths where red tongues burn
And white teeth gleam-
New words are formed,
Bitter
With the past
But sweet
With the dream.
Tense,
Unyielding,
Strong and sure,
They sweep the earth-
Revolt! Arise!
The Black
And White World
Shall be one!
The Worker's World!
The past is done!
A new dream flames
Against the
Sun!

sexta-feira, 3 de julho de 2009

Os últimos poetas

No fim dos anos 60, no Mont Morris Park em Nova Iorque e depois num apartamento da rua n.º 125, alguns poetas reuniam-se para escrever, discutir, ler poesia. Um deles, refugiado político da África do Sul (Willie Kgositsile) escreveu um texto anunciando "os últimos tempos dos poemas e dos ensaios" que seriam substituídos pelas armas de fogo. Por isso eles eram "os últimos poetas" - The Last Poets.
O hip-hop herdou a música e as palavras ditas de uma luta que também foi deles.

"Blessed are those who struggle", do album "Delights of the garden", de 1977: